segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Oh, Glória

"Agora, Jesus tem que iluminar a cabeça do povo brasileiro"
Foi o que eu ouvi um certo senhor falar no ônibus, enquanto tentava decifrar as palavras fora de ordem no e-book de Dois Irmãos, em meio ao calor e à dor de cabeça. Nada de mais, pensei. Apenas mais uma pessoa com uma opinião -nem tão- própria quanto ao que devia acontecer. Ignorei, e voltei a ler.


"Oh, glória!"

...


"Oh, glória!"

...


"Oh, glória!"

...


Foi o que o mesmo senhor repetiu, enquanto a pessoa com quem conversava, que por acaso estava no banco ao lado, permaneceu em silêncio.

"Porque eu sou filho do rei! Eu sou príncipe! Sou filho de Deus! Ninguém tem o direito de fazer alguma coisa contra mim!" Ele diz, sem motivo externo algum, tempo depois.

Discursos e mais discursos sobre como apenas Deus pode fazer o bem, em voz desnecessariamente alta, desviavam meus pensamentos do livro a um ponto em que desisti de ler, e passei a apenas fitar distraidamente a já conhecida paisagem da janela do ônibus.

Próximo à Ponte das Bandeiras, uma mulher, e um filho com síndrome de down, passam pelo corredor, em direção à porta.
O senhor diz, ao garoto: "Você é muito bonito, sabia?", então, olha para a mãe e diz: "Tem fé, e deixa Jesus trabalhar no seu coração, que esse problema dele vai acabar"
Depois que os dois saíram, ele vira-se ao seu companheiro, e diz: "Viu como ele é bonito? Tem que ter fé, que esse mal, esse demônio nele, vai embora!"

Foi aí, que pus-me a pensar: O garoto, realmente, tinha um problema? Ele pode ser considerado um demônio por ter uma deformação que não é sua culpa? Ele precisa do dó de um desconhecido?

Pessoas como esse homem no metrô não têm fé. Em nada. Eles reafirmam-se, e reafirmam-se de novo, em voz alta, para que aquilo que eles gostariam de acreditar possa se tornar realidade. Quem acredita em algo, seja no que for, não precisa reafirmar a si mesmo, nem tentar desesperadamente, como esse homem no ônibus, convencer os outros de sua crença, apenas acredita.


"Sabe aquela mulheres que se dizem crente? Dá uma boa pisada no pé delas pra ver se é crente mesmo! Pra ver se ela não vira uma bofetada na sua cara!" Ele disse, pouco antes de sair.

Alguém que se diz crente, por acreditar, não deveria revidar uma agressão? Isso a torna menos crente? Mais uma vez, a reafirmação volta, desta vez acusatória, para que ele tente convencer a si mesmo de sua fé.

São pessoas como essas que tornaram e ainda tornam a vida de muitas outras mais difíceis, menos aceitáveis, porque, sabe, aqueles com problemas mentais involuntários têm demônios em seus corpos.

A fé não está no que fazemos ou dizemos. Está dentro de nós




"Se eu fosse um ossinho e soubesse girar, girava o dia todo até o mundo acabar..."

Desprezo, tédio e decepção

São estas três palavras que definem uma festa de casamento com a família Ferreira, ou, talvez, apenas a parte dela a qual pertenço.
Um fim de semana na praia: falta no curso, pressa ao sair da escola, um pedaço de pizza, um trabalho de fotografia e a esperança de diversão ao lado de membros próximos da família. Casamento de um tio: pétalas, um violino com música clichê, buffet em casa.
Bebida, muita bebida alcoólica para pessoas desprezíveis: felicidade falsa, palavras sem nexo, exagero, vício.
Uma câmera para alguém do curso de multimídia: planos fora do padrão "todo mundo fazendo pose", uso do 'cenário' do local para fotos diferentes. Pesoas percebem a habilidade: fotógrafo do buffet passa a seguir-me para usar os ângulos e planos encontrados, família abusa, querendo ver as fotos a cada minuto, pedem fotos com pose, recebo atenção demais, não gosto disso, prefiro permanecer invisível. Um garoto pula na piscina gritando, para atrair atenção. Vou para a sala, tiro o DS do bolso, jogo até o fim da bateria. Cochilo.
15:00 e a festa não parece estar próxima de seu fim. Volto a ela, como algumas torradas com patê, e queijo. Vou ao lado de minha mãe, conversamos coisas do cotidiano, ela e a irmã praticamente não beberam. Poucas pessoas com cérebro na família. Vou para a casa de outro tio, na qual sou hóspede, jogo um pouco, ponho o DS para recarregar, volto à festa para comer doces e despedir-me de minha mãe de minha tia, que vão embora às 18:00, trabalham no domingo. Meu pai e outros bêbados tentam jogar-me na piscina. Recuso-me a juntar-me a eles, volto para a outra casa, onde permaneço no ócio total até que adormeço, às 22:00.
Próximo à hora em que eventualmente dormiria, tios discutem sobre cerveja. Não sabem falar de outras coisas. Desprezo.
Domingo, 4:00; acordo, não durmo de novo até a noite. Os planos de caminhar na praia pela manhã não poderão ser concretizados. Decepção.
Não posso ligar o videogame ou irão reclamar. Tédio.
Teorizo um post em meu blog, e o escrevo às 9:40, em meu caderno, no colchão onde estou desde o dia anterior, e onde passarei a maior parte do dia, até que meu pai enfim decida voltar para casa.



Fins de semana com a família não estão na moda.

sábado, 18 de outubro de 2008

HOPI HARI - PoV do Danilo

Calor, desperto. Olho para o relógio, 4:30, deito-me de novo, adormeço.

Um pesadelo, desperto de novo, mais uma vez olho o relógio, minha visão está embaçada, 5:40, dormi mais do que o esperado. Dirijo-me ao banheiro, lavo o rosto. Escuro. Volto a olhar o relógio: 5:15; não ia conseguir dormir de novo. Dirijo-me ao quarto, visto a roupa separada no dia seguinte, saio sem fazer muito barulho, vou ao metrô.

6:20
Saio do ônibus, cheguei cedo demais, devia ter saído de casa às 6,mas é melhor chegar cedo que chegar atrasado, pensei.
Vou ao metrô, pego um metrô news, sento-me em um canto, e leio-o. Com matérias mal escritas sobre política e economia, o jornal dá mais ênfase à nova isabela, o sequestro em santo andré, a cidade com uma rua, uma placa e uma árvore e a esportes. Jogo o jornal no lixo.

6:40
Passo a andar de um lado para o outro na praça da tiradentes, subindo e descendo as escadas do metrô nos dois sentidos para passar o tempo, aos poucos as pessoas fúteis do Liceu começam a aparecer: gente do médio, ou até mesmo do técnico, fumando e bebendo em plena manhã.

7:05
A partir das 7, ficara esperando dentro do metrô, era a hora em que marcáramos de nos encontrar. Patuxa é a primeira a chegar, aparentemente com o pai, deixo-a em paz. Volto a caminhar do lado de fora, quando volto, encontro Henrique e Biel conversando sobre o museu do crime, eles não parecem ter notado a presença de Patuxa bem próxima a eles. Converso, ofereço biscoitos, reclamo de sede. Léa chega, pai de Patuxa a deixa, nos perguntamos onde estaria Gabê, subimos as escadas, e a encontramos, descobrindo então que ela viera de carro.

7:30
Corremos para a entrada do metrô, com medo de o ônibus já ter ido embora, fomos comprar água e alimento no mercado mais próximo, ao chegarmos lá, descobrimos que os ônibus acabaram de chegar, esperamos mais, conversamos, falamos de gatos, brincamos de Dança do Retângulo, falamos das pessoas na rua e de nossas roupas.

8:40
Finalmente vamos em direção ao local onde estão os ônibus, sou zoado em boa parte do caminho por pessoas que são insuficientes pra seu próprio ego. Chegamos ao Liceu, esperamos pela permissão de entrada, sentamo-nos na frente.

10:00
Depois de muita conversa, e uma certa menção à aeromoças, olho para trás e deparo-me com o primeiro Momento Estranho: Henrique estava com o rosto fora do campo de visão, visivelmente inclinado, fazendo movimentos de ida e volta com a cabeça, olho para Biel, ao seu lado, meio que deitado, em posição fetal, e com apenas a região do peito para cima visível, em seu rosto uma expressão de visível felicidade e prazer.

10:30
Chegamos ao Objetivo, Hopi Hari, com sua pseudo-língua exclusiva, muito calor e pouco espaço com sombra, Patuxa mais uma vez põe a culpa na aeromoça,e vamos para os bancos, com sombra.

11:00
O parque abre.Entramos em uma fila muito menor que as demais. Nos perguntamos se é Vip, ou simplesmente foi esquecida pelos demais visitantes, era a segunda opção.


11:15
Terminamos de esperar as garotas que haviam ido ao banheiro, e dirigimo-nos ao Ekatomb. Uma pressão esmagadora no pior lugar para isso, porém um brinquedo relativamente relaxante.

12:20

Depois de alguns brinquedos, uma prova da resistência de um celular, uma tentativa de grease lighting e confissões no escuro, rastejamos para algum lugar onde pudéssemos comer, ou apenas algum lugar com sombra. Ao encontrarmos um restaurante com déficit de eficiência, sem o alimento que queríamos, caro e com atendente que não entendia o pedido, comemos uma comida sem graça, e que não satisfez a total falta de energia, com direito a um verme gigantesco na calça de biel, provavelmente atrás dos remanescentes do já mencionado momento estranho, tirei-o com um chute.


18:30

Depois de muita brisa, momentos estranhos, brinquedos, litros de refrigerante, uma bolinha-que-pula e seu mestre, Biel, o Sol se pôs.

Gabê vai ao Sky Coaster, onde pagou R$20,00 para pular de uma altura qualquer. Não foi esse o melhor é claro, o mais fantástico é que fomos capazes de ver: o Super Homem, um avião, uma manteiga, um míssel com ângulo de inclinação de 60º, uma caixa-de-pizza-que-bóia, uma tora, uma libélula, e, sobretudo, as FAF (Fatias de Amor Flutuantes)!

Deparamo-nos também com certos monstros, não realmente assustadores, mas possíveis bons atores.



Saímos de lá às 21:00, onde brisamos ainda mais no ônibus

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Branco

Branco. Uma cor, ou será que não?

"Se as pétalas da rosa branca se abrem uma a uma, as memórias daquele dia se colorirão"

Se pudéssemos representar cada sentimento por uma cor, o branco seria o que?
Seria exatamente aquilo que o branco é: a união de todas as cores, mas, diferente de seu oposto, o preto, não se destaca, nunca se sobrepõe, nunca perturba, é um sentimento puro, que não tem definição ou classificação, aquela vontade que todo mundo às vezes tem de simplesmente fazer as pessoas, sejam elas quem forem, felizes.
Porque o branco, diferente das cores, não absorve a luz de nada nem de ninguém, sempre refletindo, sempre iluminando, deixando que todos tenham sua própria luz, mesmo que para isso não sobre nenhuma para si próprio.

"Quando as pétalas da rosa branca se dispersam uma a uma, nosso amor transforma-se em eternidade."

Quem sabe, a própria natureza do branco de entregar o que há de bom nele mesmo aos outros seja a mesma natureza que o afasta dos demais, já que quanto mais perto você estiver da luz, maior será sua sombra. Tudo o que for branco, um dia ser tornará preto, porque chegará uma hora em que sua luz irá se esgotar, e ele, como o preto irá precisar da luz do branco, aquela mesma luz que ele entregou a todos, porque sem o preto,o branco não pode existir, e sem o branco, também o preto não existe, então esse mesmo tudo que absorve é o tudo que dá, esse novo preto é também o novo branco, a luz dentro das trevas, o bem dentro do mal, e nenhum deles pode existir sem o outro.

O preto está na moda, não estar na moda também, mas mesmo que todos usem preto, ninguém quer estar na moda, eles se anulam, e sobra o nada. Branco.