domingo, 29 de março de 2009

Equilíbrio

Aqueles mesmos músculos usados pra sorrir também são usados para chorar. Mas você chora tanto de alegria quanto de tristeza.

Aqueles neurônios ativados quando se sente cócegas são os mesmos responsáveis pela sensação de dor.

Na prática, não existe diferença entre eles.
O que é o sofrimento se não um grande prazer?

Pobres são as pessoas felizes, que não conhecem na dor a essência da própria vida. Que não vêem no horror sua própria, e, sobretudo, verdadeira essência. Que desconhecem a verdadeira virtude do homem, porque esta só vira à tona quando toda a sua esperança houver se esvaído em clamores de ódio, em gritos de dor, e nos pensamentos destrutivos. Apenas então poderão ser criadas esperanças verdadeiras. Mais poderosas, mais reconfortantes, mais úteis por assim dizer, quem sabe? Não se pode prever quão valoroso pode ser cada humano, a seu próprio modo, frente ao desespero.



Um delicioso e saboroso pão. Alimentando aos homens, trazendo-lhes o prazer de uma barriga cheia, do sabor na boca.

Não é esse pão fruto de um ciclo de vida e morte?

Os ovos que poderiam dar origem a uma nova vida. O leite que alimentaria a vida recém criada. Os próprios fungos que o fazem crescer simplesmente viviam, alimentando-se de seus nutrientes. O açúcar, vindo da planta que a ninguém jamais prejudicou, ceifada pelo bem de outrém.

Quantos sacrifícios são feios por um momento de prazer?

O sofrimento se torna alegria.
A desesperança converte-se em virtude.
A luz que brilha, mesmo que envolta nas mais profundas trevas.

Ah, amor, quão cruel, e, ao mesmo tempo, quão gentil podes ser?

"O anjo caído ainda pode voar com sua única asa negra."




Mentira.










Ele apenas esconde sua asa branca.

domingo, 22 de março de 2009

Anima

Quão inútil é a vida? Nascer, causar dor física. Viver, sentir dor de todo tipo. Morrer, causar dor emocional.


A vida, como uma flor do inferno que, acorrentada ainda na forma de botão, parece bela. E, tendo a oportunidade de se libertar, tendo duas correntes estraçalhadas e seu verdadeiro eu evocado por aqueles que nela vêem uma bela rosa, revela seu demônio.Mas esse demônio, ainda assim, tem seus braços acorrentados pelos grilhões. Esse demônio se liberta, e ele é a dor. Mas também ele habita a belíssima rosa. E essa rosa é a vida. Ora, essa flor não é mais do que o próprio demônio. Terrível e atemorizador, sim. Mas também terrivelmente belo, em seu clamor pela própria morte. Porque assim como a dor que ele mesmo não pode deixar de causar, ele também a sente. Uma rosa pecadora.


Ninguém precisa sentir dor. Quem precisa viver?



Quão maravilhosa é a amizade, as pétalas da flor. Porque mesmo que impere sobre elas o rei do sofrimento, sustentam umas às outras, e fazem com que esta vida, essa dor, esse demônio, se torne belo.


Quão terrível o amor, o demônio ensangüentado que impera sobre a flor. Porquê em seu único olho sangrento paira a visão de todo o mal que pode afligir o corpo e a mente de um humano, e basta não mais do que um piscar, tendo findado por um breve instante o amor, não há vida que possa continuar. Já que naquele pequeno momento, toda a luz cessou, e não pode a flor imaginar viver sem ela.

sábado, 14 de março de 2009

Prinny


Trabalhar


Sim, trabalhar, trabalhar, e trabalhar mais hora após hora, dia após dia, para ganhar um salário suficiente apenas para continuar vivo, e trabalhando. Arrume a cama! Lave a louça! Cozinhe! Passe! Limpe o chão! Guarde as coisas! Seja um soldado! Me carregue! Se quiser receber o salário, vai ter que se esforçar! Se ousar pisar aí, não vai voltar a ver a luz do dia!

Agora, imagine isso, 20 horas por dia, 7 dias por semana. Aí você se pergunta, isso é permitido pelas leis trabalhistas? É, no Netherworld.


Porque, afinal, estou falando de Prinnies! Os pinguins de Disgaea, que nada menos são do que almas humanas que trabalham, trabalham, e trabalham para pagar pelos seus pecados. O que muitos não percebem, porém, é que eles são uma representação daquilo que eles, de fato, são: humanos.

Sim, eles trabalham e trabalham à exaustão, não porque querem, mas por serem obrigados. Precisam ser sempre os melhores para não serem castigados. E ah, quão frágeis são, assim como seus párias que de fato existem, por explodirem, sim, ao sofrer qualquer impacto mais forte.

E não trabalham, veja você que lê este post, de mal grado. Isso nunca! Porque basta que terminem um serviço, e já estão dançando! O que não significa, porém, que não sofram. Ah sim, eles sofrem como qualquer pessoa sofreria sob tais condições, mas eles sabem também que, não importa a revolução ou quem os lidere, sempre estarão sujeitos a isso. Se eles mesmos se revoltarem, há seres mais poderosos que eles para controlá-los.

Não não não! Eles não precisam trabalhar pela eternidade! Quando a Lua Vermelha chegar, eles serão salvos. Tudo o que eles fazem em vida na verdade é apenas uma preparação para a hora de sua morte! Uma crença, uma religião em que eles acreditam ferverosamente, inabalável, mesmo que nunca tenham presenciado, eles sabem que o que importa, de fato é sua alma. Ah, a humanidade!

Pobres, pobres Prinnies.


É bom saber, porém, que mesmo sob tamanho sofrimento, eles são as criaturas mais carismáticas existentes, e, também, que a Lua Vermelha é real.


"Red moon, red moon
Cleanses the sinful and makes them anew
Shining brightly in the night sky, waiting for the souls
Who will be born again tonight?
Who will be born again.. tonight?
Be born again tonight..."

domingo, 8 de março de 2009

Impotência

Um dia como outro qualquer. Você acordou de madrugada, se vestiu, escovou os dentes, arrumou suas coisas, e saiu para a escola, como em todos os outros dias, ah, a terrível rotina. Mas, quando você sai de casa, você vê que pra alguma outra pessoa não foi qualquer dia.

Policiais, muitos policiais parados na rua oposta à sua. Você ouve vozes, vê que um homem qualquer está conversando com eles, outro homem está sendo revistado, a poucos metros de distância. Você passa pelo meio da comoção, seu corpo e seus olhos demonstrando indiferença, mas sua mente trabalha em um turbilhão de teorias. Isso é, até que, ao passar pelo último carro de polícia, você ouve uma voz de mulher que chora, vinda de dentro do carro, você ouve uma policial tentando conversar com ela, mas seu pranto é mais forte do que as palavras. Seu coração é invadido por uma explosão, um sentimento inabalável que é uma mistura de tristeza, empatia, e, principalmente, impotência.

A impotência, você logo pensa, é injustificada. Você não sabia do que estava acontecendo. Quando você soube de algo, já havia acontecido. Não há diferença, por exemplo, do holocausto hitleriano. Aconteceu, foi ruim, mas está fora do seu poder.

O problema é quando você, depois de subir uma ladeira, ao descê-la, ver que um homem está levando uma mulher, que parece ser sua esposa, praticamente arrastada pelo pescoço, ela tenta lutar, mas é fraca demais. Seu instinto protecionista é logo ativado, mas sua razão é mais forte: se você tentar lutar, você vai perder. Ele é um homem adulto, mais forte, e mais experiente do que alguém que nunca brigou na vida. Não só isso mas, quando você perder, você terá perdido a briga, a saúde, o dia letivo, quem sabe até mesmo a própria vida! Seus pais e seus amigos ficariam preocupados e o repreenderiam por uma atitude impensada. Mas, principalmente, você teria perdido não só a briga física, como também a ideológica. Quando aquele homem que agride uma mulher terminar com você, ela será obrigada a ir pra casa, e nada irá mudar. De fato, mesmo que você tivesse ganhado, nada iria mudar de qualquer jeito! O que, afinal, você poderia fazer? Nada. Impotência, triste, cruel e real.

Nada foi feito, mas um olhar fixo, demonstrando raiva, e um punho fechado devido ao ódio são as demonstrações que seu corpo dá à situação. Aquele homem percebe a sua presença, talvez devido aos chaveiros que você carrega na sua mala. Ele olha de soslaio pra você, e os dois, homem e mulher, andam como se nada estivesse acontecendo. Você atravessa a rua para, já que seu passo é mais acelerado do que o deles, poder olhar em seus rostos. O homem demonstra uma raiva aparente, que tenta disfarçar. A mulher, apenas raiva, não tenta esconder, e seus braços estão cruzados, evidenciando que está se contendo ao máximo. Eles viram a esquina, ainda sem continuar a agressão.

Muitas horas mais tarde, você volta pra casa, e descobre que aquela mulher, que você descobre depois, tinha 17 anos, houvera morrido.

Impotência, por não poder ajudar uma mulher que é agredida pelo marido. Impotência, por não poder alimentar todas as pessoas e animais do mundo. Impotência, porque você não pode voltar no passado e impedir uma tragédia de acontecer. Impotência para não poder arrancar o sofrimento e a dor dos corações de todos os humanos, e, sobretudo, daqueles que você ama. Impotência por não poder, ao invés de arrancar o sofrimento alheio, transferi-lo para si mesmo. Impotência para cuidar de você mesmo. Impotência para tornar o mundo inteiro melhor.


O que você não percebe, porém, é que a impotência não existe.


Mesmo que você não possa fazer nada por definitivo, você fez algo. Aquele homem que agredia a esposa na rua, ao ser obrigado a parar de fazê-lo por um tempo, pode ter pensado, e reconsiderado a situação. O fato de que aquela mulher houvera morrido se provou um rumor, ninguém sabe realmente o que aconteceu. Você pode não alimentar todas as pessoas e animais do mundo, mas pode comprar a revista de um guru, que se mostra uma ótima pessoa, assim como pode adotar aquela cadela que deu cria recentemente na rua perto de casa até que ela e os filhotes estejam bem, e depois doá-los para pessoas confiaveis. Você pode repensar suas prioridades, e cuidar melhor de si.


Quando você senta ao lado de um amigo que sofre, põe a mão em seus ombro, e diz que não pode fazê-lo para de sofrer, mas que, não importa o que aconteça, você estará ao seu lado, você não transferiu suas forças, mas criou novas, e as deu a ele, forças que lhe darão novo motivo para viver.

Ninguém, absolutamente ninguém pode salvar o mundo inteiro sozinho, isso não. Mas todos podem mudar seu próprio mundo, e isso não lhe traz mal algum. De fato, não há sentimento melhor do que ver que o mundo de outra pessoa foi salvo em parte por você. Se todas as pessoas salvarem o mundo umas das outras, então só assim o mundo será salvo, e não será graças a elas, mas graças ao próprio mundo, que salvou a si mesmo.


"Você conseguiu derrotar uma coisa que eu pensei que ninguém conseguiria. Por isso eu também resolvi pensar que existe um jeito para tudo. [...] Eu quero ser mais forte."



"Run, you fools"