segunda-feira, 13 de abril de 2009

Manchas

Os clamores dos vivos são as canções da morte.

Horror e dor, com todo o seu sabor. Amor e sorte, tudo acaba na morte. Um sentimento de desânimo, a mente entre nuvens, um calor que se espalha, uma ansiedade inevitável, a incapacidade para criar, dificuldade de raciocínio, uma caneta estourada, uma mancha derramada em sua escura cor que não existe.

A tinta preta não é preta, só a morte é escura. A tinta é azul, é roxa, é falsa. Só a morte é preta, porque a morte não tem luz, a morte é morta, e a morte cura.

Cura o corpo, porque um corpo morto não fica doente, um coração parado não sofre, um cérebro estourado não é corrompido, um neurônio morto não sente dor. A mente morta morre com o corpo. A mente que está morta eu não sei por que. A mente está morta por estar desanimada, por estar quente, por estar com dor, por ser ansiosa sem motivo. A mente morta morre e então fica viva, torna-se livre, longe das nuvens que a encobriam, e a mente viva pode dominar o mundo.

A mente viva mata corpos e não pode ser morta. Porquê só um corpo pode matar uma mente, e um corpo só pode matar um corpo. Só um corpo com uma mente viva pode matar uma mente viva. E as mentes estão mortas.

As manchas pretas que antes pareciam tão distantes agora estão aqui ao lado, as manchas de tinta preta falsa que antes apareciam por engano, por um erro de cálculo ou por um acidente com a caneta agora são feitas por intenção. Intencionalmente, porque, mesmo falsa, mesmo que de fato seja azul, a tinta preta mascara melhor que um risco de azul nítido. Uma mancha para algumas mentes é só sujeira, mas para aquela que anseia por sua vida ela é criação, para a mente que luta para se libertar, a folha manchada é um alívio para a ansiedade, um resfriamento do calor incômodo, um raciocínio que existe, mesmo sem sentido, mesmo que baseado em uma depressão sem base. Uma depressão, que como a tinta, é falsa. Mas também uma depressão, que como a morte, é benéfica, que liberta, que domina o mundo.

Certa vez, um vivo cuja mente foi morta por si própria, que em sua morte se tornou viva, e num corpo vivo pôde dominar o mundo, perguntou a seu universo: Qual é o sentido de viver, se o destino de tudo é morrer? Para que construir, se tudo irá se destruir? Se para que o vivo deixe de morrer, ele precisa estar morto, então matarei a tudo que é vivo, e destruirei tudo que É.

E foi então, que ele destruiu não ao universo, mas a si mesmo. Sua mente estava viva, seu corpo também. E da morte nenhum escapou.


Mas toda a morte parece sem forças, a depressão é estúpida, o calor não existe, as nuvens se adaptam e se tornam boas apenas com aquele som, aquela vibração do ar, a contração dos pulmões, um sorriso que parece esculpido pelo valoroso e admirável da Vinci.


Como pode um clamor dos vivos derrotar tão facilmente a poderosa Morte? No fim, ela é fraca, e só existe para que se possa definir a vida.

2 comentários:

Gaabe disse...

m a folha realmente faz mais sentido o/

Julia disse...

esse eu já li e.e e na folha faz todo o sentido a.a