quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Desejo

Chego numa sala, totalmente vazia, sem pintura ou móveis, apenas o concreto das paredes e do piso, ou pelo menos parecera à primeira vista, até notar uma prateleira solitária no canto da parede oposta à única entrada simples, sem porta. Nela, uma garrafa. Grande, grossa, mas com o bico desproporcionalmente fino. Dentro , muitas cobras flutuavam inertes, de tamanhos e formas diferentes, porém todas da mesma cor, dentro de um líquido que desconhecia, embora naquele momento soubesse, sem motivo que era uma bebida alcoólica. Não sei se talvez pela iluminação não muito boa que vinha da grande janela ao lado da prateleira, que por acaso até então não houvera dado pela presença, mas o líquido parecia amarelado, como que sujo, velho, contaminado, apodrecido. Mas mesmo assim, as cobras estavam vivas. Olhei para a caneca cheia de água que carregava em minha mão direita, e naquele momento tive certeza de uma coisa: queria beber aquela água com uma das cobras dentro.

Tirei a tampa de rolha, e chacoalhei a garrafa até que muito do líquido estava no chão, junto com uma das cobras. Olhei para ela, mas rejeitei-a. Não era essa a cobra que queria. Como não queria que o galpão, que desde o começo sabia ser do meu tio, estivesse sujo, usei a água de minha caneca para limpar a sujeira. Não foi preciso muita coisa, apenas um simples movimento de jogar o líquido límpido no chão fez com que líquido sujo e cobra desaparecessem. Voltei a encher a caneca. Não me lembro quando, onde, ou quanto tempo levou, sei apenas estar de volta na sala, com a caneca novamente cheia em mãos. Pegarei novamente a garrafa, que apesar do movimento anterior, ainda está cheia de líquido, e repeti a ação. Mais uma vez não era uma cobra da aparência que desejava, volto a limpar, e volto a jogar o líquido no chão. De novo, e de novo, repito a ação,. Percebo, porém, que agora não farei mais movimentos inteiros, o que meus olhos viram são apenas flashes de movimento: jogar o líquido, rejeitar cobra, limpar, rejeitar cobra, limpar, jogar líquido, jogar líquido, limpar, tudo isso com a fúria de um ferreiro que não consegue martelar uma espada do jeito correto. Uma expressão de raiva constante no rosto, e o Sol do meio dia (está quente) ilumina a sala do exato mesmo jeito, sem se mover com o tempo.

Logo, ou pelo menos é a impressão que tenho, apenas uma cobra sobra na garrafa, que ainda está totalmente cheia do líquido. Depois de limpar a cobra anterior, meu tio chega. Mesmo o chão estando totalmente limpo, ele parece saber o que aconteceu, mas continua com uma expressão de dúvida, embora o ar à sua volta pareça debochador. Explico-lhe os motivos, e o que aconteceu, embora tenha a impressão de não ter lhe dito nada. Ele entende perfeitamente. Três tapinhas no ombro, um sorriso no rosto, ele sai pela única porta, e, mesmo não tendo dito nada, sei que me chama para segui-lo. Vou em sua direção, mas antes, dirijo-me à cobra que restou. Aproximo o rosto da garrafa na prateleira solitária, e encaro a cobra, que parece também estar olhando pra mim. Porém, diferente da expressão apática que todas as cobras tinham desde o começo, agora esta estava triste. Talvez cobras não tenham exatamente expressões, mas ela estava triste, tenho absoluta certeza disso. Ela morre. Mesmo que estivessem dentro do líquido, e tendo sido furiuosamente chacoalhadas, até então as cobras continuavam vivas, mas agora, esta morrera. Continuei olhando para o corpo em desgraça, que morreu triste, e só. Ao concluir isso, percebo que não há mais cobra dentro da garrafa. Aquilo pra que olho é meu próprio rosto, refletido na superfície calma e inerte da garrafa cheia de líquido, e apenas disso.

domingo, 26 de julho de 2009

Door to the Light

"Thinking of you, wherever you are

We pray for our sorrows to end, and hope that our hearts will blend

But now, I will step forward to realize this wish

And who knows, starting a new journey may not be so hard, or maybe it's already begun!

There are many worlds, but they share the same sky

One sky, one destiny."

-Kingdom Hearts


"The power of thinking of someone you love is stronger than the pyramids!"
"And more everlasting than mummies"
"And also more beautiful, and bigger than the universe"

"You keep denying it, but its obvious you need us. We will stay here, but only if you want it, of course"
"Opacho will stay, even if Hao-sama says no. Because... I'llbe one of his stars"

"You have been wrapped by kindness. In other words, that kid I met in the past has come back as your true self. That kid with a kind heart and a pure soul"
"You have finally gotten rid of all your sorrow and anger. Your heart has lost after facing everyone's souls"

-Shaman King

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Loss of me: Rose of May

her heart underneath
cries quietly
this part of me
I choose not to see

what lives must I take
for fealty's sake?
how much blood must stain
this warrior's blade?

war leaves its trail
in moonlight so pale
its shadows they flow
in rivers, in rivers
so put on my mask
I'll go where they ask
so I might once again see the
Roses of May

Staining my soul and stinging my eyes
the red on my hands
won't wash away, wash away
no where to run from what I have done
I'm no longer, no longer
a Rose of May

fate holds the blade before you
mirrored in maiden's eyes
far from myself I fly
into the perilous skies
and they said
follow the blade before you
fear fall and courage rise
leave all your tears behind you
far from where innocence lies

Cage of the kings
No need for wings
So turn them to stone
from roses to bone

when you look at me
what do you see?
this costume I weave
disfiguring me...


war leaves its trail
in moonlight so pale
its shadows they flow
in rivers, in rivers
so put on my mask
I'll go where they ask
so I might once again see the
Roses of May

Staining my soul and stinging my eyes
the red on my hands
won't wash away, wash away
no where to run from what I have done
I'm no longer, no longer
a Rose of May


Storm clouds are creeping closer
danger is drawing near
why am I not protecting all that
I once held dear?
and you said
break free from all that holds you
kings hand and maiden's tear
run now into my arms
together we'll conquer our fears

Led here by fate
No longer afraid
So here now I lay
My Roses of May

-Final Fantasy 9

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Aria de mezzo carattere

Oh my hero,
My beloved,
Shall we still be made to part?
For promises of
Perinniel love
Yet sing here in my heart.

I'm the darkness,
You're the starlight
Shining brightly from afar.
Through arms of despair
I offer this prayer
To you, my evening star.

Must my final
Vows exchanged
Be with him and not with you?
Were you only here
To quiet my fear...
Oh, speak, guide me anew!

-Final Fantasy 6, World of Ruin

domingo, 12 de julho de 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Crescent Island

Terra:   If a human and an esper can love one another...
Do you think a human and I could love each other?
Leo: Of course!
Terra: But... I don't even know what it feels like to
love someone.
Leo: You're still young. ...Someday you'll know.
Terra: But... I know to know now...
Terra: Who's there...?
Shadow: I thought I'd sleep out under the stars.
Terra: Did you...hear what we were talking about?
Shadow: I didn't mean to listen in.
Terra: So...
Shadow: I can't help you. Those are answers you'll have
to find for yourself.
Shadow: Terra.
Shadow: There are people in this world who have chosen to
kill their own emotions. Remember that.


-Final Fantasy 6, World of Balance

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Love is war

"The agitation with no release. The weight of this love

In the blue sky, lights reflects on particles
The sunsets, from the weakening light comes the mechanical sounds

Ah, the world is falling apart, but even so, I still love you
I understand that completely. What should I do
To make you understand this secret code
I am such a fool… I will

Protect you, this is a war
There is no way I will watch you get hurt
A suffocating love, that is a sin
I will let you know my affection for you

I tried to yell out, but this voice is weak
No matter how much I raise my voice, It probably still won't reach you

Ah, before I realize it, the dawn is already coming. Time, please stop
I cannot make you understand my feeling, what can I do
How should I proceed

I can see you who I cannot reach

Therefore

I will protect you, this is a war
Whatever it takes, there is no time to choose means
In order to let you understand the extend of my love
I will protect you with all my might

Prepare for the final blow
The battle is not yet over
Love is war
Until this song reaches you"

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Meltdown

"Say, to a fusion reactor,
If I try diving in, then,
I must be able to disappear as if asleep
The morning when I am gone will be
much more wonderful than it is now, and
it will be a world where all gears are engaged

..

it will surely be such a world"

domingo, 28 de junho de 2009

"Tremes perante o que não tens, mortal!
E aquilo que perdeste, em lágrimas, deplora!
Não sou de Deus a imagem! Sinto-o profundo.
Pareço mais um verme, e no pó vivo imundo;
Que do pó se alimenta, e nele sempre exulta,
Se o pé do itinerante poupa e não o sepulta"

-Fausto

quarta-feira, 10 de junho de 2009

E isso se chamava coração: um programa.

"1st Miracle was that you were born
2nd Miracle was that time we spent together
3rd Miracle is sincere heart from you in the past
4th Miracle I don't need 4th I don't need"


"Always you did those things for me, even though they were troublesome.
I've realized that I've only been selfish, and hurt you for so long...
You are the only one who would hear me, but you're no longer here..."


"My arms, both in red handcuffs. Surely its the color of someone's spilled blood.
Both of my ankles, in chains of blue. Surely, it's the color of someone's tears of sympathy"


"If we can be reborn , then play with me again at that time"

Kokoro, Regret, Re_birthday, Servant of evil

sábado, 23 de maio de 2009

Flor no Espelho, Lua na Água

Máscaras por vezes falham, mesmo que se possa confeccioná-las de maneira que pareçam perfeitas, alguns rostos parecem simplesmente ter ácido. Não só aquelas que mostram sentimentos artificiais, até o mais básico, e digo isso no sentido de ser primordial para todos os outros, dos simulacros eventualmente se mostra ineficiente, falho. Algumas pessoas aprendem que não se pode mascarar os olhos sem ficar cego. E quando aqueles que se apresentam mascarados desde o início resolvem tirar suas máscaras, causam estranhamento àqueles que aprenderam a amá-las. Sim, aquilo que sempre admiraram fora as máscaras. Nunca olharam para seus olhos por acharem que eram tal como a pele falsa em sua face. E então, removido o espelho, vêem que preferiam ao simulacro, e lutam para que seja colocado de volta. Só não param para pensar que a lua na água só brilhava tanto por estar em um escuro grande demais, e, uma vez perturbada a paz lúcida de sua superfície, e contemplada sua verdadeira natureza, sempre saberão que aquela terrível e profunda treva estará lá, não importa o quão brilhe o espectro alvo da lua. E não conseguirão, então, olhar para nada que não sejam seus olhos, e os temerão para sempre, e tremerão à mera memória. Mas, quem sabe... para alguém que não possa olhar para cima, aquela lua na água é a única que existe. Fato é que é melhor afogar-se tentando pegar o reflexo na água do que viver tentando alcançá-la do céu

A ilusão quebrou-se, Kyouka Suigetsu, mas ainda podes mascarar com perfeição,e suas máscaras serão sua maior força


domingo, 17 de maio de 2009

Maldição

Compreensão pode ser a pior das maldições.

Um dom raro: quantos são aqueles que podem, por um simples olhar, ou talvez então pela mera proximidade, conhecer o que uma pessoa sente? Ou quão raros são os que compreendem, através de poucas palavras, os motivos, emoções e ações de um amigo?
Ora, por tal descrição, a empatia não é mais que uma facilidade: quem compreende pode ser aceito. A maldição real é saber que, mesmo que possa entender a todos, por ninguém será compreendido.

Humanos podem ser muito diferentes uns dos outros, mas, tendo identificado-se mutuamente em algumas poucas coisas, sendo estabelecida uma pequena parcela de compreensão, não é preciso muito para que permaneçam juntos e relacionem-se na oh tão nobre amizade. E esses amigos reunem-se em pequenos grupos de acordo com a caracterísica em comum. Estão juntos e dão suporte uns aos outros. Até que ponto?

Enquanto puderem compreender-se, estarão unidos. Mas aqueles que nasceram com o dom da empatia não podem ser por eles compreendidos. Qual a relação que podem ter com outras pessoas, se a amizade, em teoria, não pode existir sem mútua compreensão? É exatamente essa a resposta: nenhuma. Por compreenderem, amam, e por compreenderem são... amados? Uma mentira. Não podem ser amados. Qualquer sentimento que possa existir por um desses desgraçados não passa de ilusão. Por vezes, esses mesmos condenados são tolos o suficiente para achar que podem ser compreendidos, só para então cair num abismo de egoísmo, onde afinal olharão para si próprios e verão o quão vazios realmente são. E por serem vazios podiam compreender, já que aquilo que sempre fizeram, na realidade, fora encher o buraco em seus peitos com os sentimentos alheios. Apenas não podiam até então notar que é impossível preencher o nada. E o nada os consome, e no nada, solitários devem ser tristes, como um geass que os afasta daqueles que insistem em amar. E por eles irão morrer. Por seu bem, serão humilhados. E ainda assim não verão um singelo olhar de gratidão verdadeira.

Onde luz e trevas consomem um ao outro, o cinzento nada reina supremo.
Não é o zero, afinal, simétrico e perfeito?


domingo, 3 de maio de 2009

Rosa Mística

Regozijem! Porque o demônio horrível da flor do inferno foi dominado pelas pétalas de amizade que a embelezavam! Ah, a maravilhosa vida! Dominada não mais por um Anima sangrento e mortal, mas por um demônio tão surpreendentemente dócil e gentil que faz com que a rosa se indague como não viu o poder que tinham suas pétalas, ou como também não pôde ver que o doce perfume que exalava vinha do próprio ser horrendo que a torturava. Não a culpemos, por favor. Afinal, até que o demônio fosse dominado, ela não conseguia sentir cheiro algum.

Evil flower,
Blooms dainty.
With vivid coloration,

As for pitiful weeds around
Oh became nutrient and (now) decaying off

Ah, mas o destino pode ser muito, muito cruel. Já que, para que fosse derrotado o demônio, duas das pétalas tornaram-se heroínas por assim dizer, tal feito teria sido impossível não fosse por elas. A verde mão do destino, porém, causando acidente, raiva e imcompreensão, fez com que essas duas pétalas de maior beleza existentes se separassem, e pouco sabem elas o quanto isso enfraqueceu a rosa, que tentou incansavelmente juntá-las, para que recobrada fosse sua tão recente obtida força. Mas a rosa não pôde. E tarde demais percebeu que, se não houvesse lutado, ambas as pétalas haveriam retornado para perto uma da outra, fazendo assim com que se tornasse ainda mais forte do que fora outrora. Tarde demais percebeu que a verde mão do destino era seu próprio talo.

Evil flower,
Blooms dainty
In maniacal coloration.
Although it is a very beautiful flower
Oh there's too much thorn it can't be touched.


Também foi tarde demais que a rosa viu que, por sua luta, fez com que as duas pétalas que tanto lhe davam força caíssem. Surpreendeu-se porém porque, com elas, como que surgida do nada, caíra também uma esfera de vidro, e seus estilhaços a machucaram muito, a ponto de quase fazê-la cair. Seus estilhaços também cortaram as algemas do Anima que houvera sido contido, e, agora, sem as pétalas valorosas para contê-lo, nada o prenderia de novo. Mas regozijem! O que as pétalas houveram feito não fora em vão, e agora o demônio é gentil, e irá proteger a rosa usando os mesmos estilhaços que a houveram machucado tanto, e com eles fará à sua volta uma redoma, para que nenhuma outra pétala ou qualquer coisa possa machucá-la de novo, e ah! Ele teve o cuidado de também manter as duas pétalas bem próximas dela, para que possam lhe dar força, mesmo que tão reduzida a ponto de não parecer nada.

Evil flower,
Blooms dainty
In doleful coloration.
Paradise (made) for her,
Oh, collapsing brittle but fleetingly.


E nessa redoma, a rosa continuará a viver, ainda dominada pelo Anima que antes a destruía, porém que agora cuida dela para que nenhuma outra pétala possa cair, evitando que ela destrua a si própria enquanto tenta se concertar. Esse demônio é, afinal, o amor, e mesmo que ainda seja terrível e destruidor por natureza, seu único olho sangrento agora demonstra gentileza, e guardará as pétalas junto a si, para que elas não apodreçam antes que a própria rosa morra, mas mantendo a distância que elas tiveram de criar graças ao monstruoso destino, que, no fim, nada mais era do que a própria rosa, e não é mais o demônio o grande destruidor, mas ela mesma.

Evil flower,
Scatters dainty
In vivid coloration.
The people of latter-day talk (of her) as such,
Oh she was truly the daughter of evil.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Egocentrismo

Minhas veias dilatadas expressam meu próprio espírito inquieto, ansioso, que não encontra paz mesmo quando o universo implica nela. Meu espírito que sente raiva, mas que não tem motivo para tanto. Minhas veias dilatadas não sei por quê. Talvez estejam com excesso de sangue, talvez esteja com a pressão baixa. Quem sabe não estou simplesmente com calor? Meus olhos lacrimejam, e mostram minha alma solitária, que não se identifica com a de ninguém, mas ao mesmo tempo aprecia a de todos. Meus olhos, que em solitário e inexpressivo pranto despejam lágrimas que não existem, são janelas para um espírito sedento por carinho, por afeto, assim como são para um espírito que não consegue conversar com outro, que se isola e pensa, que cria representações de si mesmo em sua solidão. Por vezes intencional, por vezes imposta.

Meu corpo de veias dilatadas comporta um espírito carente, assim como a um espírito solitário e indagador. E, como se não fosse suficiente portar personalidades que, juntas, levam à sua auto-destruição, que juntas, como parasitas, levam à perdição de seu hospedeiro, e que mesmo assim se completam sem intenção, também insiste numa outra, talvez a mais recém-criada delas, que vê o lado engraçado das situações mais constrangedoras, que associa situações e cria humor, e demonstra um estado de espírito em absoluto contraste àquele que predomina nos momentos de solidão.

Porventura não tenho tripla personalidade? Quem sabe meu lado feliz não passa de uma máscara, usada para que possa andar em público sem chamar atenção à minha própria melancolia natural, e, assim, talvez, por esse mesmo público, ser aceito? Sou o que sou, e sou solitário, e por nada me identifico, mas por tudo tenho admiração. Preciso de atenção, e minhas veias se dilatam, meus olhos lacrimejam lágrimas invisíveis.

Talvez esteja simplesmente com calor

terça-feira, 21 de abril de 2009

Medo

Imagine-se numa noite quente. Todas as pessoas na sua casa já foram dormir, o escuro total o envolve, exceto pela luz do monitor do computador que você insiste em usar, graças a diálogos no messenger. Eis que um amigo seu lhe pede, exatamente no momento em que você decide ir dormir, para ver um vídeo. Você não hesita, e clica no link, para então ver uma coisa que lhe parece estranhamente familiar, mesmo que tenha certeza de nunca ter visto: Obedece a la morsa. Você se assusta a princípio, mas insiste em ver, insistindo na sua coragem. Aos poucos, você não tem mais medo da criatura deformada em roupas exóticas que insiste em dançar mesmo com suas limitações físicas, você chega a sentir pena, compaixão. O plano muda, e, mais tarde do que deveria, você percebe que ela se aproxima em passos cambaleantes da câmera, seu coração se alarma, uma corrente de adrenalina passando por seu corpo, você vê aquilo se aproximando, você insiste em ver, diz a si mesmo que é só um ser humano, você olha pro rosto daquela pessoa, e vê um olhar quase maligno, você olha para seus braços e pernas deformados, acompanha o cambalear, a câmera se aproxima do ser ao mesmo tempo em que ele se aproxima dela, a música que perdurara o vídeo inteiro cessa, e só o que você ouve é o som dos passos, você entra em desespero, aquela criatura não está se aproximando da câmera, está se aproximando de você! Sua parte racional insiste que não é verdade, mas você não consegue deixar de sentir isso, e você, assustado, fecha a janela, mesmo que faltem apenas 15 segundos para que o vídeo termine.

O medo, tal como a dor, é impossível de controlar, ele não depende de você, depende do exterior, e você não pode fazer com que o exterior mude, ele quer que você tenha medo, você vai ter medo, não há escolha.
O medo, tal como a surpresa, pode ter várias formas, mas que se resumem todas a uma mesma sensação. E como a surpresa, o medo se dá pura e simplesmente com uma quebra da rotina, um hábito quebrado, algo que está fora do lugar.

Esse medo, que pode ir desde o inocente terror que os cães têm em relação a um simples e benéfico banho, ao medo da morte. Talvez não a sua própria, quem sabe não é a de um amado? E tal como a dor, o medo revela o verdadeiro ser humano, apenas frente ao horror um pode demonstrar suas verdadeiras virtudes. Frente ao medo verdadeiro, todas as máscaras caem, ele é a verdadeira representação da natureza humana.

Há aqueles que podem controlá-lo, e, se o medo é a representação do homem, então aquele que o controla também pode controlar a humanidade. Quem ousará desafiar alguém que o aterroriza? Quem poderá contrariar alguém que lhe causa uma sensação desagradável de impotência, que lhe faz sentir que, se não obedecê-lo, ele poderá lhe fazer mal ou àqueles que lhe são queridos?

Os corajosos.

O medo, diferente da surpresa, não é caracterizado por apenas um momento, onde você leva um susto, e também é diferente da dor, indestrutível, destruidora, mortal.

O medo é uma proteção, uma maneira de preservar a si e aos outros, uma maneira de fazer com que aquilo que você preza seja mantido. Mas, se para proteger aquilo que você preza, o medo precisa ser derrotado, se para que você e aqueles que lhe são queridos possam ser felizes, para que estejam bem, o escuro precisa ser enfrentado, o governante amedrontador precisa ser contrariado, e aquele monstro que você chama orgulho precisa ser derrotado, para que a crueldade e o sangue frio deixem de existir, você precisa sacrificar a si próprio de alguma maneira, então o medo toma outra forma, a que chamamos coragem. Ah, mas não se iluda, ela ainda é o medo, mas agora ele se transformou, e tal como uma uma treva que se torna luz, ele muda sua natureza, mas nunca perde sua verdadeira essência. E então você vê que aqueles que usam o medo são os mais fracos dos homens. Aqueles que vêem nele uma maneira de controlar ao próximo só o fazem por não verem em si próprios uma maneira de fazê-lo de outra forma. Essas pessoas sucumbiram ao medo, e não podem transformá-lo em coragem. E se tornam covardes. Covardes, não por terem medo, mas por serem incapazes de ver através dele, e o medo os domina, e o medo os destrói.

Há também aqueles que usam o medo por prazer, que vêem no horror alheio sua fonte de felicidade. Muitos os chamam de loucos, eu os admiro, e os chamo fascinantes.
Tenho medo do medo, e vejo em sua derrota um grande prazer. E derrotá-lo é, muito, muito simples. Não é necessário nada mais do que ententendê-lo. E quando o fizer, ele já terá tornado-se um calor que lhe dará força, que quebrará barreiras, que fará com que o nada exista, e o impossível se desmantele.


segunda-feira, 13 de abril de 2009

Manchas

Os clamores dos vivos são as canções da morte.

Horror e dor, com todo o seu sabor. Amor e sorte, tudo acaba na morte. Um sentimento de desânimo, a mente entre nuvens, um calor que se espalha, uma ansiedade inevitável, a incapacidade para criar, dificuldade de raciocínio, uma caneta estourada, uma mancha derramada em sua escura cor que não existe.

A tinta preta não é preta, só a morte é escura. A tinta é azul, é roxa, é falsa. Só a morte é preta, porque a morte não tem luz, a morte é morta, e a morte cura.

Cura o corpo, porque um corpo morto não fica doente, um coração parado não sofre, um cérebro estourado não é corrompido, um neurônio morto não sente dor. A mente morta morre com o corpo. A mente que está morta eu não sei por que. A mente está morta por estar desanimada, por estar quente, por estar com dor, por ser ansiosa sem motivo. A mente morta morre e então fica viva, torna-se livre, longe das nuvens que a encobriam, e a mente viva pode dominar o mundo.

A mente viva mata corpos e não pode ser morta. Porquê só um corpo pode matar uma mente, e um corpo só pode matar um corpo. Só um corpo com uma mente viva pode matar uma mente viva. E as mentes estão mortas.

As manchas pretas que antes pareciam tão distantes agora estão aqui ao lado, as manchas de tinta preta falsa que antes apareciam por engano, por um erro de cálculo ou por um acidente com a caneta agora são feitas por intenção. Intencionalmente, porque, mesmo falsa, mesmo que de fato seja azul, a tinta preta mascara melhor que um risco de azul nítido. Uma mancha para algumas mentes é só sujeira, mas para aquela que anseia por sua vida ela é criação, para a mente que luta para se libertar, a folha manchada é um alívio para a ansiedade, um resfriamento do calor incômodo, um raciocínio que existe, mesmo sem sentido, mesmo que baseado em uma depressão sem base. Uma depressão, que como a tinta, é falsa. Mas também uma depressão, que como a morte, é benéfica, que liberta, que domina o mundo.

Certa vez, um vivo cuja mente foi morta por si própria, que em sua morte se tornou viva, e num corpo vivo pôde dominar o mundo, perguntou a seu universo: Qual é o sentido de viver, se o destino de tudo é morrer? Para que construir, se tudo irá se destruir? Se para que o vivo deixe de morrer, ele precisa estar morto, então matarei a tudo que é vivo, e destruirei tudo que É.

E foi então, que ele destruiu não ao universo, mas a si mesmo. Sua mente estava viva, seu corpo também. E da morte nenhum escapou.


Mas toda a morte parece sem forças, a depressão é estúpida, o calor não existe, as nuvens se adaptam e se tornam boas apenas com aquele som, aquela vibração do ar, a contração dos pulmões, um sorriso que parece esculpido pelo valoroso e admirável da Vinci.


Como pode um clamor dos vivos derrotar tão facilmente a poderosa Morte? No fim, ela é fraca, e só existe para que se possa definir a vida.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Negação

Aquela mulher alienada que diz "ela ficou tanto tempo pra escrever ISSO?" não conseguer ver o esforço que aquela outra pessoa teve para se expressar, mesmo levando em conta o desincentivo para escrever, em pró da fala, mesmo não sendo bem escrito, mesmo não sendo belo, marcante, impactante, é a representação de um sentimento. Ela nega porque não compreende. Ela nega porque não empatiza, porque seus olhos estão cegos por seu próprio mundo habituado, por seu trabalho repetitivo, pelas multidões de olhar morto e sem emoção, presos à rotina. Não indagam, não pensam, não criam, apenas vivem, são levadas pelos líderes que lhes impões um estilo, uma visão. São levadas por um metrô velho e desconfortável, mas que leva, e que cumpre seu dever. Um metrô como a multidão. Ele pode se encher de todo tipo de gente imunda, de mercadoria roubada, de mendigos, de empresários, de estudantes, de trabalhadores, de poetas, de pensadores, mas no fim, mesmo que essas pessoas não estivessem sendo cuspidas para fora em toda estação, se estivesse vazio, sem nem mesmo ar dentro dele para que qualquer coisa respire, não faz diferença.

Às vezes a porta trava, gente atrasada, gente descuidada, gente vândala. Também não faz diferença, só pra quem percebe que precisa que ele se mova. E às vezes só percebe quando ele se atrasa, quando o padrão se quebra, quando a rotina é socada, os olhos cheios de nada, fechados para si próprios se abrem e vêem que algo naõ está certo. Mas ainda assim, eles não podem, mesmo depois de perceberem, impedir que o metrô se atrase, não está em seu poder, não ousam, porque só quando todos percebem é que podem impedi-lo, mas não podem. E se fecham, e não pensam, e não indagam, e não vêem. E aí negam, negam, negam, negam e negam. Negam a si próprios, negam ao seu poder, negam sua mente, negam aqueles ao seu lado, negam a carta cuidadosamente dobrada em forma de coração por uma menina, negam porque não empatizam, e olham com seus olhos inúteis e sem essência para algum qualquer que, quem sabe, poderia deixar de negar, e perguntam numa voz atônita, porém sem base, apenas repetindo algo que ouviu alguém dizer, e nunca se preocuparam em pensar em seu por quê: "Deu pra ler as coisas dos outros, é?", e continua olhando, boca aberta, olhos em um ponto fixo no centro de seu rosto, e nenhuma palavra sai de sua boca, moldada por sua língua e dentes sujos, só para então começar a ler um trecho, em voz alta, para que qualquer um a seu lado possa ouvi-la.

Neste momento, uma faísca, um flash de razão lhe passou pela mente, e ela viu que seu valor não tinha fundamento. Mas ninguém ouviu, porque todos estão mortos. Estão mortos e não vêem. Estão mortos e negam. Talvez aquela pessoa, a dois passos de distância, que tentava ver do que se tratava a carta, consiga definir algumas palavras misturadas ao barulho alto e incessante do metrô andando. E aí o flash acaba, e aquela mulher volta a seu mundo, suas regras impostas são reestabelecidas, a porta abre, ela retorna a sua rotina, seu renascimento acaba, ela volta para a morte, e foi morta pela sociedade, foi morta por si mesma. Ela nega por ter sido negada.

Por quê, no reino de um Deus que apenas aqueles cujos corpos foram dilacerados ao ponto em que sua morte acaba, porque seu corpo também morreu, e a morte da morte nada menos é que a vida, podem dizer se existe ou não, aquela velhinha não viu o lugar vazio no ônibus cheio, que lhe foi concedido por alguém que viu a necessidade de que ela estivesse sentada, mesmo que essa outra precisasse, para isso, ficar em pé, seu corpo à mercê da inércia e em contato com tantos corpos estranhos? Mesmo que tivesse passado ao lado do lugar vazio, por que não o viu? Ela está morta. e ela não vê. Não vê porque nega. Nega por estar morta. E a morte não a deixa ver.

domingo, 29 de março de 2009

Equilíbrio

Aqueles mesmos músculos usados pra sorrir também são usados para chorar. Mas você chora tanto de alegria quanto de tristeza.

Aqueles neurônios ativados quando se sente cócegas são os mesmos responsáveis pela sensação de dor.

Na prática, não existe diferença entre eles.
O que é o sofrimento se não um grande prazer?

Pobres são as pessoas felizes, que não conhecem na dor a essência da própria vida. Que não vêem no horror sua própria, e, sobretudo, verdadeira essência. Que desconhecem a verdadeira virtude do homem, porque esta só vira à tona quando toda a sua esperança houver se esvaído em clamores de ódio, em gritos de dor, e nos pensamentos destrutivos. Apenas então poderão ser criadas esperanças verdadeiras. Mais poderosas, mais reconfortantes, mais úteis por assim dizer, quem sabe? Não se pode prever quão valoroso pode ser cada humano, a seu próprio modo, frente ao desespero.



Um delicioso e saboroso pão. Alimentando aos homens, trazendo-lhes o prazer de uma barriga cheia, do sabor na boca.

Não é esse pão fruto de um ciclo de vida e morte?

Os ovos que poderiam dar origem a uma nova vida. O leite que alimentaria a vida recém criada. Os próprios fungos que o fazem crescer simplesmente viviam, alimentando-se de seus nutrientes. O açúcar, vindo da planta que a ninguém jamais prejudicou, ceifada pelo bem de outrém.

Quantos sacrifícios são feios por um momento de prazer?

O sofrimento se torna alegria.
A desesperança converte-se em virtude.
A luz que brilha, mesmo que envolta nas mais profundas trevas.

Ah, amor, quão cruel, e, ao mesmo tempo, quão gentil podes ser?

"O anjo caído ainda pode voar com sua única asa negra."




Mentira.










Ele apenas esconde sua asa branca.

domingo, 22 de março de 2009

Anima

Quão inútil é a vida? Nascer, causar dor física. Viver, sentir dor de todo tipo. Morrer, causar dor emocional.


A vida, como uma flor do inferno que, acorrentada ainda na forma de botão, parece bela. E, tendo a oportunidade de se libertar, tendo duas correntes estraçalhadas e seu verdadeiro eu evocado por aqueles que nela vêem uma bela rosa, revela seu demônio.Mas esse demônio, ainda assim, tem seus braços acorrentados pelos grilhões. Esse demônio se liberta, e ele é a dor. Mas também ele habita a belíssima rosa. E essa rosa é a vida. Ora, essa flor não é mais do que o próprio demônio. Terrível e atemorizador, sim. Mas também terrivelmente belo, em seu clamor pela própria morte. Porque assim como a dor que ele mesmo não pode deixar de causar, ele também a sente. Uma rosa pecadora.


Ninguém precisa sentir dor. Quem precisa viver?



Quão maravilhosa é a amizade, as pétalas da flor. Porque mesmo que impere sobre elas o rei do sofrimento, sustentam umas às outras, e fazem com que esta vida, essa dor, esse demônio, se torne belo.


Quão terrível o amor, o demônio ensangüentado que impera sobre a flor. Porquê em seu único olho sangrento paira a visão de todo o mal que pode afligir o corpo e a mente de um humano, e basta não mais do que um piscar, tendo findado por um breve instante o amor, não há vida que possa continuar. Já que naquele pequeno momento, toda a luz cessou, e não pode a flor imaginar viver sem ela.

sábado, 14 de março de 2009

Prinny


Trabalhar


Sim, trabalhar, trabalhar, e trabalhar mais hora após hora, dia após dia, para ganhar um salário suficiente apenas para continuar vivo, e trabalhando. Arrume a cama! Lave a louça! Cozinhe! Passe! Limpe o chão! Guarde as coisas! Seja um soldado! Me carregue! Se quiser receber o salário, vai ter que se esforçar! Se ousar pisar aí, não vai voltar a ver a luz do dia!

Agora, imagine isso, 20 horas por dia, 7 dias por semana. Aí você se pergunta, isso é permitido pelas leis trabalhistas? É, no Netherworld.


Porque, afinal, estou falando de Prinnies! Os pinguins de Disgaea, que nada menos são do que almas humanas que trabalham, trabalham, e trabalham para pagar pelos seus pecados. O que muitos não percebem, porém, é que eles são uma representação daquilo que eles, de fato, são: humanos.

Sim, eles trabalham e trabalham à exaustão, não porque querem, mas por serem obrigados. Precisam ser sempre os melhores para não serem castigados. E ah, quão frágeis são, assim como seus párias que de fato existem, por explodirem, sim, ao sofrer qualquer impacto mais forte.

E não trabalham, veja você que lê este post, de mal grado. Isso nunca! Porque basta que terminem um serviço, e já estão dançando! O que não significa, porém, que não sofram. Ah sim, eles sofrem como qualquer pessoa sofreria sob tais condições, mas eles sabem também que, não importa a revolução ou quem os lidere, sempre estarão sujeitos a isso. Se eles mesmos se revoltarem, há seres mais poderosos que eles para controlá-los.

Não não não! Eles não precisam trabalhar pela eternidade! Quando a Lua Vermelha chegar, eles serão salvos. Tudo o que eles fazem em vida na verdade é apenas uma preparação para a hora de sua morte! Uma crença, uma religião em que eles acreditam ferverosamente, inabalável, mesmo que nunca tenham presenciado, eles sabem que o que importa, de fato é sua alma. Ah, a humanidade!

Pobres, pobres Prinnies.


É bom saber, porém, que mesmo sob tamanho sofrimento, eles são as criaturas mais carismáticas existentes, e, também, que a Lua Vermelha é real.


"Red moon, red moon
Cleanses the sinful and makes them anew
Shining brightly in the night sky, waiting for the souls
Who will be born again tonight?
Who will be born again.. tonight?
Be born again tonight..."

domingo, 8 de março de 2009

Impotência

Um dia como outro qualquer. Você acordou de madrugada, se vestiu, escovou os dentes, arrumou suas coisas, e saiu para a escola, como em todos os outros dias, ah, a terrível rotina. Mas, quando você sai de casa, você vê que pra alguma outra pessoa não foi qualquer dia.

Policiais, muitos policiais parados na rua oposta à sua. Você ouve vozes, vê que um homem qualquer está conversando com eles, outro homem está sendo revistado, a poucos metros de distância. Você passa pelo meio da comoção, seu corpo e seus olhos demonstrando indiferença, mas sua mente trabalha em um turbilhão de teorias. Isso é, até que, ao passar pelo último carro de polícia, você ouve uma voz de mulher que chora, vinda de dentro do carro, você ouve uma policial tentando conversar com ela, mas seu pranto é mais forte do que as palavras. Seu coração é invadido por uma explosão, um sentimento inabalável que é uma mistura de tristeza, empatia, e, principalmente, impotência.

A impotência, você logo pensa, é injustificada. Você não sabia do que estava acontecendo. Quando você soube de algo, já havia acontecido. Não há diferença, por exemplo, do holocausto hitleriano. Aconteceu, foi ruim, mas está fora do seu poder.

O problema é quando você, depois de subir uma ladeira, ao descê-la, ver que um homem está levando uma mulher, que parece ser sua esposa, praticamente arrastada pelo pescoço, ela tenta lutar, mas é fraca demais. Seu instinto protecionista é logo ativado, mas sua razão é mais forte: se você tentar lutar, você vai perder. Ele é um homem adulto, mais forte, e mais experiente do que alguém que nunca brigou na vida. Não só isso mas, quando você perder, você terá perdido a briga, a saúde, o dia letivo, quem sabe até mesmo a própria vida! Seus pais e seus amigos ficariam preocupados e o repreenderiam por uma atitude impensada. Mas, principalmente, você teria perdido não só a briga física, como também a ideológica. Quando aquele homem que agride uma mulher terminar com você, ela será obrigada a ir pra casa, e nada irá mudar. De fato, mesmo que você tivesse ganhado, nada iria mudar de qualquer jeito! O que, afinal, você poderia fazer? Nada. Impotência, triste, cruel e real.

Nada foi feito, mas um olhar fixo, demonstrando raiva, e um punho fechado devido ao ódio são as demonstrações que seu corpo dá à situação. Aquele homem percebe a sua presença, talvez devido aos chaveiros que você carrega na sua mala. Ele olha de soslaio pra você, e os dois, homem e mulher, andam como se nada estivesse acontecendo. Você atravessa a rua para, já que seu passo é mais acelerado do que o deles, poder olhar em seus rostos. O homem demonstra uma raiva aparente, que tenta disfarçar. A mulher, apenas raiva, não tenta esconder, e seus braços estão cruzados, evidenciando que está se contendo ao máximo. Eles viram a esquina, ainda sem continuar a agressão.

Muitas horas mais tarde, você volta pra casa, e descobre que aquela mulher, que você descobre depois, tinha 17 anos, houvera morrido.

Impotência, por não poder ajudar uma mulher que é agredida pelo marido. Impotência, por não poder alimentar todas as pessoas e animais do mundo. Impotência, porque você não pode voltar no passado e impedir uma tragédia de acontecer. Impotência para não poder arrancar o sofrimento e a dor dos corações de todos os humanos, e, sobretudo, daqueles que você ama. Impotência por não poder, ao invés de arrancar o sofrimento alheio, transferi-lo para si mesmo. Impotência para cuidar de você mesmo. Impotência para tornar o mundo inteiro melhor.


O que você não percebe, porém, é que a impotência não existe.


Mesmo que você não possa fazer nada por definitivo, você fez algo. Aquele homem que agredia a esposa na rua, ao ser obrigado a parar de fazê-lo por um tempo, pode ter pensado, e reconsiderado a situação. O fato de que aquela mulher houvera morrido se provou um rumor, ninguém sabe realmente o que aconteceu. Você pode não alimentar todas as pessoas e animais do mundo, mas pode comprar a revista de um guru, que se mostra uma ótima pessoa, assim como pode adotar aquela cadela que deu cria recentemente na rua perto de casa até que ela e os filhotes estejam bem, e depois doá-los para pessoas confiaveis. Você pode repensar suas prioridades, e cuidar melhor de si.


Quando você senta ao lado de um amigo que sofre, põe a mão em seus ombro, e diz que não pode fazê-lo para de sofrer, mas que, não importa o que aconteça, você estará ao seu lado, você não transferiu suas forças, mas criou novas, e as deu a ele, forças que lhe darão novo motivo para viver.

Ninguém, absolutamente ninguém pode salvar o mundo inteiro sozinho, isso não. Mas todos podem mudar seu próprio mundo, e isso não lhe traz mal algum. De fato, não há sentimento melhor do que ver que o mundo de outra pessoa foi salvo em parte por você. Se todas as pessoas salvarem o mundo umas das outras, então só assim o mundo será salvo, e não será graças a elas, mas graças ao próprio mundo, que salvou a si mesmo.


"Você conseguiu derrotar uma coisa que eu pensei que ninguém conseguiria. Por isso eu também resolvi pensar que existe um jeito para tudo. [...] Eu quero ser mais forte."



"Run, you fools"

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A vida como um RPG, a sociedade como uma sala de espera

Ele pode ser de várias maneiras: por turnos, tático, dungeon crawler ou até mesmo de ação, mas no fundo, é sempre um RPG.

Você começa fraco, sem entender muita coisa, com dezenas de possibilidades a serem exploradas. Às vezes tem um tutorial, às vezes você precisa descobrir por si próprio. Explorar sozinho é muito mais divertido, mas nem sempre se aprende tudo, e por vezes alguma coisa é deixada pra trás. Essa coisa pode ser um 'missable' e você nunca mais vai conseguir, outras você pode voltar mais tarde pra pegar.

No começo, os inimigos são fracos e é muito fácil derrotá-los, mas é só pra você pegar o jeito, depois eles ficam cada vez mais fortes, e se você mesmo não ficar também, é Game Over. E, é claro, você só consegue passar dos chefes se é muito forte, ou observou como ele ataca pra poder fazer uma estratégia. Mas nunca se deve esquecer que com seus companheiros tudo fica muito mais fácil. Tudo bem que às vezes você precisa parar pra curar um, ou tirar os status negativos de outro, mas não é como se eles não fariam o mesmo por você, e, quanto mais forte for o chefe, mais experiência você ganha, e mais capaz de enfrentar o chefe seguinte você está.

Preste atenção em todos os detalhes, pode ter alguma coisa crucial e, se você não estiver atento, pode perder grandes oportunidades. Mudar de Job sempre é uma opção se você acha que não está conseguindo jogar direito com esse, apenas tenha certeza que seu novo job vai se adaptar bem à party, ou pode ter problemas mais tarde.

A história é sempre surpreendente, claro que alguns gostam, outros, nem tanto. Personagens carismáticos podem morrer tragicamente, vilões terríveis podem dominar o mundo, um RPG é livre dos clichês, apesar que alguns podem estragá-lo se não souberem construir o jogo direito.

Lembre-se sempre de explorar a Fayth Room depois de derrotar a Yunalesca, porque se quiser a Sun Sigil depois, vai ter que enfrentar o Dark Bahamut. É claro, enfrentar ele sem a Caladbolg é muito mais difícil, mas é muito mais recompensador.

Se um chefe estiver difícil demais, e parecer impossível e desesperador, de duas uma: ou você não está preparado e precisa voltar e fazer o que ficou faltando, ou é uma derrota obrigatória, e só assim vai poder prosseguir na história. Não desligue o videogame antes de tentar de tudo.

O antagonista nem sempre é o vilão, e tudo o que ele faz pode ser por um bom motivo. Seja ele vilão, herói, ou simplesmente um aldeão de uma cidade por onde você passou, todos os personagens podem ser carismáticos a seu próprio modo, então sempre preste atenção em todos!
"Oh, Celestine! Tell mom I lover her!"

Ah! O jogo só acaba quando você ver o "The End" depois dos créditos, do contrário pode ter sempre algum final secreto, o New Game Plus aparece em alguns, então sempre tenha esperança!

Claro, não custa nada você ensinar os jogadores novos como se passa de um chefe. Eles podem não conseguir a mesma experiência, mas pelo menos vão estar mais tranqüilos, e vão usar a lição como base para suas próprias estratégias.


AH, a sala de espera, é claro!

As pessoas se isolam, sentando próximas umas às outras apenas quando não há mais lugar, ou quando têm algum interesse. Alguns compraram pipoca, salgadinho ou algo do gênero, e nem olham pros lados. A mulher com olhar desolado olha quase que apaixonadamente para as crianças que brincam com brinquedos simples.

"Filha, mostra a hemácia pra ela!"

A velhinha é a mais isolada, mas talvez seja porque ela sentou na segunda cadeira de um conjunto de 4, então ela automaticamente afasta as pessoas que sentariam na primeira e na terceira. A moça da lojinha está sempre solitária, mas quando alguém vem comprar, ela é a mais simpática, mesmo que não tenha uma tabela de preços, e ela ainda dá paçoca grátis! Sem nunca esquecer de mencionar que todos estão sempre do lado direito. Se alguém mudasse pro lado esquerdo, ficaria bem próxima a um desconhecido, e duas vezes mais distante da pessoa do conjunto de cadeiras ao lado, então, mesmo que se separem em uma grande solidão, essas pessoas mantém um equilíbrio próprio, nunca muito próximos, também nunca muito distantes, salvo a velhinha, mas vejam! Alguém sentou na quarta cadeira! Ela também está equilibrada agora!

Tudo isso pode parecer muito confuso se você não conseguiu imaginar a situação, ou se nunca viu um RPG, mas ei! Só pra completar, uma frase que também não tem muito sentido se você não interpretar.


Um relógio só vai estar errado ou quebrado se houverem muitos ao redor para dizer o contrário, esse é o tempo daquele relógio, porque qu
estioná-lo?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Pacote

Todos buscam pela última bolacha do pacote, mas a verdade é que são todas iguais. O que faz a última parecer a melhor é que você precisa passar por todas as outras antes de chegar nela.

A última bolacha poderia ser qualquer uma. Todas parecem iguais, mas nunca se sabe se uma delas vai estar estragada, ou se vai estar mais saborosa que todas as outras. Vieram do mesmo lugar, quem sabe o que vai acontecer com elas depois?


Algumas, sem nenhum motivo aparente, podem ser muito melhores, mas, até que se explique o porque, esta será sempre representada pela última

E, às vezes, só se dá o devido valor a uma bolacha quando parece que ela vai ser desperdiçada, para sempre.


Post confuso, sim.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Irrealidade

Não importa que você tenha apenas imaginado algo. Se você acredita que é verdade, por que seria uma mentira? Mas o que faz, de fato, uma verdade? A existência de algo que prove sua, como o próprio nome diz, veracidade. Ora, mas se algo de fato existe, mas não há nada que prove sua existência, isso deixa de ser real? Acredito que não. É aí que me indago: qual a diferença de algo cuja existência não pode ser provada e algo que foi criado pela imaginação de alguém? Nenhuma.
Se discorda, prove que não existe, e, se assim for, prove também que algo existe, porque sem a inexistência, a própria palavra existir não tem significado. Sendo assim, aquilo que não existe de certa forma existe. Uma criação imaginária é perfeita e concreta à sua própria forma, e, em seu próprio mundo, o ser humano é Deus, mesmo que suas criações, em algum ponto, sejam baseadas nas coisas que ele próprio já vê com os próprios olhos. A inexistência nasce do real. Fantasmas, vampiros, anjos, fadas, elfos, dragões, magia, keyblades, heartless, shinigamis, prinnies, superpoderes... quão interessante seria o mundo sem eles? Mesmo não que não 'existam' no mundo material, nada impede que um dia venha a ser. Porque o que seria o ser humano sem seus pensamentos? Provavelmente muito menos interessantes. Não importa quão irreal se possa sonhar, é o primeiro passo para que o torne realidade, e, é claro, isso não se aplica apenas a coisas, mas a feitos também.


E encerro este post com minha própria criação, baseada também em coisas existentes!



Este post é em sua homenagem, Henrique. Eu sei que seu sonho pode se tornar realidade!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Coração

"An empty vessel whose heart has been stolen away...
A spirit that goes
on even as its body fades
from existence---
for you see, Nobodies do not truly
exist at all.
Nobodies may seem to have feelings, but this is a ruse.
They
only pretend to have hearts. You must not be deceived!"
- Yen Sid

Então, pergunto a você, que neste momento lê um emaranhado de palavras organizado segundo a mente de um qualquer em um lugar qualquer, num blog sem importância: o que é um sentimento? Algo baseado em um acontecimento, que lhe faz sentir-se de maneira diferente e agir de certo modo por um tempo, só para que então isso se dissipe e tudo volte ao normal? Não, isso não está errado, como dita meu estilo de escrever, porém, não é simplesmente a única verdade. Por isso, interpretarei de uma outra maneira: sentimentos não são apenas o que o nome diz: algo que se sente, são também palavras ou gestos que os demonstram, mesmo que estes não existam. Ora, o tempo pode mudar como você se sente, tirar suas posses, transfigurar seu corpo, mas não pode mudar suas ações.


Não são os próprios nobodies mencionados anteriormente as melhores representações disso? Mesmo não sentindo nada, suas ações não deixam de ter a essência da tristeza, da esperança, do ódio, da felicidade e até mesmo de al egria. Ou seja, aqueles que não podem sentir são os melhores exemplos de sentimento, os tornando tão paradoxais quanto.

"Não basta sentir, mas também demonstrar" seria o que então se concluiria disto. "NÃO!" é o que digo, porque mesmo que não seja demonstrado, um sentimento ainda pode existir.

Existir.

Uma palavra que rem ete a uma simples, recortada e/ou amassada folha de papel. Esta pequena folha não tem vida, por tanto não respira, não se move por conta própria, não se multiplica, não vê, não... existe? Ela pode ser tocada, mas mesmo assim não pode sentir, sua existência não pode ser levada em consideração tratando-se de sentimentos. Nem o poderia este blog, ou um livro qualquer. Porém, não se pode mudar a carga de emoção que pode estar imersa no próprio espaço dela, escrita ou desenhada por qualquer um que tenha sentimentos próprios. Isso faz com que esta folha exista, mesmo que não plenamente. Lhe foram dados sentimentos, e, portanto, ela também sente.

Nem todos que estão tristes choram, nem todos que estão felizes sorriem, nem todos os nervosos grunhem. Ações ou meras sensações, às vezes os dois, apenas tornam as coisas mais reais, mais "existentes", porém não são nescessárias para que se exista. Uma pedra não sente, mas pode ser bem real quando se dá de cara com ela. Parecer não é o único quesito para ser. Parecer também pode não ser. "Ser" é relativo.

"It seems we must begin anew. Ah, but know
this: I will give to you as many hearts as it takes.
Mark my words! You can no
more be complete without me
than I without you. Lend me your power,
so that we may be
complete!"


terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Monopólio

Uma empresa que domina um mercado e todos consumem dela, os mesmos produtos da mesma marca. Este é o consenso popular de monopólio, o que vem à cabeça quando se pensa na palavra. Consenso popular? Porque pensam todos a mesma coisa? Pensamento monopolizado.


Chegam as festas, e o mundo inteiro vai para o litoral. No carnaval, quem não está assistindo ao vivo ou desfilando, está madrugando para acompanhar pela televisão. Há uma festa, e as pessoas querem dançar e beber. Uma garotinha de 1 ano de idade posa quando alguém vai tirar uma foto: todos pensam "Ela vai ser modelo quando crescer!". Todo político é corrupto, toda sogra é chata, todo adolescente é rebelde, todo velho não consegue fazer atividade física, todo gay é afeminado e estilista/cabelereiro, rockeiro é drogado, mendigo é bêbado, universitário é inteligente, quem lê é nerd, vegetariano é bonzinho, rico é mimado.


O que todos falham em notar, ou simplesmente associar, é que todas essas idéias lhes foram impostas, não tomaram as próprias conclusões, elas lhes foram dadas pela mídia, pela família, seus amigos foram influenciados pela mesma mídia e as próprias famílias, e quando essas pessoas se relacionam essas idéias são cada vez mais reforçadas, consideradas verdadeiras, inquestionáveis. Viram piadas e se reforçam ainda mais, tornando-nas engraçadas -ou não-, às vezes sendo elas mesmas a primeira semente da alienação, nas inocentes e risonhas mentes infantis.

Mas o monopólio não se limita a isso, ah não! Ora, poucas são as pessoas que vêem "Narco" e enxergam sua mensagem sobre os sonhos, jogam Final Fantasy 7 e percebem que os verdadeiros protagonista e vilão são Aeris e Jenova.

Ora, quantas são as pessoas que percebem que a garotinha de Sinais é um alienígena? Quantas lêem Shaman King e percebem que o "cruel e egoísta" Hao o é por ter sido discriminado quando tentou vencer o monopólio de pensamentos, quando tentou fazer com que seus ideiais se sobrepuzessem ao que parecia correto aos olhos do povo?! Se não fossem dadas "dicas" pelos personagens, quem teria percebido a relação entre Touya e Yukito?


O monopólio não pode ser derrotado até que todos os seus consumidores criem algo melhor, mas, esse novo ideal será o novo monopólio, ou seja, um monopólio poderá ser destruído, mas o próprio conceito, a própria monopolização é indestrutível, porém, sempre haverão aqueles que estarão contra ele, que terão suas próprias idéias baseadas em suas próprias experiências, sejam elas Ariel ou Caliban, Angeal ou Genesis, Chaplin ou Augusto dos Anjos.